CORPO-LUGAR: A Micropolítica na Corpografia de Ricardo Alvarenga
Corpo-lugar, Micropolítica, Corpografia, Subjetividade.
Inspirados e enredados à cartografia corporal da cidade (Corpografia) de Ricardo Alvarenga, em sua ação direta denominada Jesus 3:30pm - One Year Performance – na qual o artista se travestiu de Cristo todos os dias ás 3:30hs, durante um ano, e peregrinou pelas ruas da cidade de Salvador em uma ação messiânica de criação de imagens de estranhamento que fizeram nascer 365 foto-performances – fitamos o olhar sob a micropolítica dos afetos e do desejo, na fecunda porosidade do cotidiano e das resistências moleculares incursas em seu fazer. Trata-se de perscrutar vestígios teórico-filosóficos acerca da comunicabilidade provinda da alteridade entre um corpo que traceja lugar e um espaço corporado. A dimensão de um corpo-lugar enquanto modus experienciável de existência se desvela, portanto, de tramas entre os campos da Filosofia, Comunicação, Artes Visuais e do Corpo, Política, e práticas da cidade, trabalhos artísticos, errâncias urbanas e devaneios poéticos baianos da contemporaneidade. A luzes de uma postura filosófica derivática, aventuramos uma construção estética da escrita em que as imagens, citações, a disposição visual de cada elemento formam uma espécie de espelho curatorial e compõem uma poética artística na qual as foto-performances de Jesus 3:30pm se fazem carne do pensar, ou seja, invocamos a inventividade artística ao texto científico à contramão de uma produção adornada pelo distanciamento da vida, do desejo, do repertório existencial e em consonância ao legado do movimento arte-vida, cujo corpo-lugar é tributário, e para o qual a experiência, raiz intracutânea do pensar, nunca se perfaz da imparcialidade com o vivido. Neste jogo sensorial de paixões e derivas, se configuram, enfim, três tramas voltadas ao corpo enquanto auto-poieses, e possíveis caminhos por uma singularização da subjetividade; às micropolíticas errantes, aos problemas sócio-espaciais no urbano e as fissuras sensíveis a uma democratização do processo de construção de sentido do lugar vivido; e, às poéticas visuais do artista e o dissenso estético-político germinado por um Jesus-outro trans-eunte des-viado, como ínfimo feixe de luz rasgando a fenda da dominação sobre corpos e modos de existir nas cidades contemporâneas, nos territórios existenciais, nas zonas físicas e subjetivas de pertencimento.